sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

PREVISÕES

HUGO SIQUEIRA


• Termoelétricas a gás ou combustível líquido serão as substitutas naturais das atuais hidroelétricas em fase de extinção. Serão velozes como turbinas de avião, para aproveitar a transformação em regime de altas rotações. Para melhorar o processo termodinâmico deverão operar em conjunto com térmicas a vapor, de modo a constituir o conjunto “termoelétricas combinadas a gás e vapor” (cogeração), para recuperar investimentos em antigas térmicas a carvão, a óleo e biomassa de bagaço de cana. A melhor localização é junto às usinas de cana de açúcar e junto às termoelétricas a combustível fóssil (Piratininga, Candiota, etc.).
• Combustível líquido e gasoso derivado da cana e florestas artificiais constitui uma das alternativas mais promissoras para Pesquisa e desenvolvimento nos próximos anos.

A cana é uma planta energética por excelência. A produtividade anual média no Estado de São Paulo é de 85 toneladas de cana por hectare, enquanto que a produtividade do milho é de 10 toneladas e a da soja é de 4 toneladas por hectare. Tudo na cana é transformável em combustível, enquanto a soja, que é uma oleaginosa, pequena quantidade de energia pode fornecer. É por essa razão que não vale a pena extrair combustível de grãos de soja (ou de grãos de milho).
“Um bom substituto para o petróleo deve ser encontrado naquilo que constitui a sua origem que são as florestas e plantas energéticas. Se o petróleo constitui um depósito ancestral, as florestas são depósitos atuais”.

• As vantagens da utilização de termoelétricas podem não ser significativas do ponto de vista econômico, tornando indiferente a escolha, porque ainda existem hidroelétricas de custo relativamente baixo na periferia da planície Amazônica. Não há, entretanto, como prever os desdobramentos da crise atual, relativamente a escassez de crédito e preço de combustíveis. Uma coisa é certa: não está muito distante o dia em que hidroelétrica acabarão se tornando mais caras e difíceis de serem aceitas pela comunidade, diante das agressões ao meio ambiente, provocado pelos reservatórios inúteis.

Como conclusão, o petróleo tem uma sobrevida de pelo menos uns cem anos e não há nenhuma razão para que deixe de ser consumido, como fonte de aquecimento nos países industrializados, e de acionamento de veículos, nos países em desenvolvimento.

Crescimento per cápita do consumo de energia e PIB em %
Período 1973/85
Países OCED EE.UU. JAPÃO
Energia per cápita -6 -12 -6
PIB per cápita 21 17 46

Tabela 1 - Crescimento do consumo de energia e PIB per cápita nos países industrializados no período 197 a 1985.
A atual crise não decorre da falta de energia, mas é uma crise de abundância que reflete uma mudança de paradigma nos modos de viver da nova sociedade do mundo industrializado. Países industrializados não oferecem mais suporte aos países em desenvolvimento, os quais têm de procurar seu desenvolvimento por meios próprios. Países industrializados perderam o contato com a produção de bens industriais aos quais tentam retornar sem sucesso.As tentativas de incentivar o emprego em áreas tradicionais fracassam porque não são mais competitivos. No setor automobilístico perdem para os concorrentes do mundo em desenvolvimento, que não param de fabricar automóveis mais econômicos. Não faz sentido estimular uma agricultura, com apenas 2% da população no campo. Não faz sentido estimular montadoras para produzir veículos para ficarem parados e nem faz mais sentido estimular a construção de casas para famílias de tamanho decrescente.Se em pleno apogeu do inverno no hemisfério norte o preço do barril não consegue decolar, é sinal claro de que só os países em desenvolvimento não vão sustentar a demanda por petróleo.
Outras formas de energia alternativa não se prestam à maior necessidade dos países industrializados: o aquecimento de residências.
O petróleo é um produto abundante em relação a outras formas de energia e seu preço continuará em queda pela concorrência de combustível alternativo, mas, sobretudo porque seus maiores consumidores estão diminuindo o consumo espontaneamente, por ingressarem na nova economia dos serviços e alta tecnologia. Como representam 70% do consumo de energia no mundo, qualquer diminuição do consumo se torna bastante significativa.
Com a população estabilizada e o consumo per cápita de energia em declínio, os países industrializados não são mais os responsáveis pelo aumento da demanda de energia como mostra a tabela 1.

Petróleo e hidroeletricidade são grandezas distintas em muitos aspectos:
 Ambos dependem de capital para estarem prontas. Acontece que o petróleo, como estoque de energia potencial, pode continuar estocado, basta não explorar, enquanto a energia potencial das quedas d’água se esvai se não for utilizada.
 Uma, o petróleo, é estoque (integral), a outra, hidroeletricidade, é energia passageira, circunscrita ao tempo atual da ação direta dos raios solares (diferencial).
 O petróleo é um estoque de energia acumulada pela ação lenta e contínua da fotossíntese que perdurou por milhões de anos, cujo montante é desconhecido, enquanto a energia potencial das quedas d’água é uma quota atual de energia, renovada continuamente, mas cujo montante, bem determinado, se esgotou rapidamente com a utilização dos saltos potenciais disponíveis.
 A energia potencial das quedas d’água não comporta acréscimos é não é ainda acumulável, enquanto o petróleo está sempre disponível, o que torna a energia potencial das quedas um recurso muito mais limitado que o combustível.
 O modo mais barato de produzir trabalho mecânico é através da utilização dos potenciais hidroelétricos devido aos elevados rendimentos da transformação quando comparados ao rendimento de termoelétricas. Por outro lado, o modo mais barato de produzir aquecimento é através da queima direta de combustível (segundo princípio).
 Apesar do uso intenso o estoque de petróleo continua uma incógnita. Apesar da baixa eficiência, a fotossíntese acumulou incalculável estoque de energia sob forma de depósitos fósseis, enquanto que nos mesmos milhões de anos, a energia potencial das quedas d’água não acumulou nada, até que a primeira roda d’água fosse utilizada.
 O combustível é tambem uma forma de energia que pode ser “renovada” pela ação do homem, limitada apenas à quantidade de terra disponível. Ao cultivar plantas energéticas como cana e florestas artificiais o homem exerce um efeito benéfico sobre o meio ambiente, repondo, de certa forma, aquilo que foi subtraído por sua ação predatória do passado. Isto mostra que o combustível é uma fonte infinitamente mais abundante que a energia potencial disponível e a maior evidência desse fato é o preço atual dos combustíveis, tanto petróleo como combustível alternativo.
Em condições normais a opção por hidroelétricas seria preferencial em virtude de grandes reservas de potenciais inexplorados na região amazônica, especialmente no Rio Xingu, onde se encontra um dos melhores recursos potenciais do ponto de vista econômico (Belo Monte). Mas considerando que nos próximos anos haverá abundância de combustíveis, cujo preço em geral declinará com a baixa atividade econômica, a opção por termoelétricas a gás representa a mais oportuna alternativa em termos econômicos e ambientais, pelas seguintes razões:
 Permite adiar investimentos de capital enquanto durar a crise atual.
 Evita elevado investimento em “linhões” e reservatórios agressivos.
 Termoelétricas a álcool vão permitir a utilização da cana já plantada.
 Pesquisa e desenvolvimento em novas tecnologias permitirão o aproveitamento total da cana e de novos combustíveis líquidos e gasosos de biomassa de florestas cultivadas, para acionamento de termoelétricas de maior eficiência.
 Gás ou álcool são fontes preciosas de “calor de processo” para inúmeras empresas de uso institucional coletivo como hotéis, hospitais, bibliotecas, restaurantes, centros de abastecimento, frigoríficos, supermercados, madeireiras, etc, etc.
 Hidroelétricas e termoelétrica não são opções autoexclusivas, mas complementares. O Brasil ainda tem bons potenciais hidroelétricos inexplorados na bacia Amazônica (Xingu e Tapajós) capazes de produzir energia muito mais barata do que as licitadas no Rio Madeira, mas são muito controvertidas. Belo Monte, por exemplo, situada no encontro do cristalino com a planície Amazônica, tem boas condições geográficas que permitem um aproveitamento de queda apreciável, utilizando um reservatório pequeno em relação à grande capacidade de produzir energia. Não necessariamente precisa ser otimizado, do ponto de vista econômico. Uma boa solução de compromisso consiste no subaproveitamento (low profile), ou seja, utilizando menor altura de queda em benefício de melhores condições ambientais e sociais, nos moldes do critério que foi utilizado nas licitações do Rio Madeira. Há que ter em conta a redução dos custos ambientais, de barragem e reservatório que constituem o maior componente dos empreendimentos hidroelétricos atuais, o custo de vertedores permanecendo constante porque projetado para vazões seculares. Para reduzir o impacto do custo de capital em equipamento que se tornará mais elevado com altura menor, a instalação dos equipamentos pode ser escalonada no tempo e em quantidade maior, de modo a ter grandes fatores de capacidade, compatível com o funcionamento contínuo.
 O custo operacional de térmicas está em queda, devido a abundância de combustíveis, enquanto o custo de hidroelétricas está subindo, devido a escassez de capital. As condições de crédito favorecem as termoelétricas, cujo combustível precisa de maior proteção por ser mais intensivo em mão de obra. A complementação por termoelétricas permite melhor aproveitamento do atual sistema elétrico no sentido de oferecer garantia de suprimento com baixo investimento.

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