sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

HUGO SIQUEIRA

O armazenamento de energia por meio de grandes reservatórios de acumulação foi a estratégia bem sucedida para ter “energia garantida”. Mas os reservatórios atuais vêm perdendo progressivamente a capacidade de contribuir para a autoregulação e a construção de novos encontra fortes restrições sócio-ambientais, de forma que, a mesma estratégia não pode mais ser repetida nas novas usinas. Garantir energia nos períodos secos se tornou mais fácil nos dias de hoje com termoelétricas a gás de menor custo de capital. A utilização de reserva de “energia garantida” por termoelétrica é uma solução mais ecológica e mais barata por mais incrível que possa parecer: é eficaz porque o combustível (gás ou combustível líquido) por elas utilizado já é um estoque de energia potencial, disponível a qualquer tempo, independente de condições climáticas.
O sistema elétrico brasileiro foi projetado no século passado, seguindo uma estratégia de sucesso que consistia no emprego de reservatórios de regularização plurianual aliado a usinas supermotorizadas, ambos de custo excepcionalmente baixo, graças ao relevo. No Norte acontece justamente o contrário e a mesma estratégia não pode ser repetida, devido tambem ao relevo: Os reservatórios são caros e ambientalmente incorretos, pela elevada relação superfície volume. O mesmo acontece com os equipamentos, turbina e gerador devido a baixa altura. Acresce ainda o fato de que as alturas precisarão ser reduzidas para não inundar mais do que as enchentes naturais, o que agrava ainda mais o custo dos equipamentos.Tanto no Norte como no Sudeste o país pode contar com enorme quantidade de energia de origem hidroelétrica para a produção de elementos estratégicos de grande valor econômico (Alumínio, estanho, hidrogênio, lítio), o que constitui um diferencial importante em relação aos países que precisam recorrer à energia mais dispendiosa de térmicas. O Brasil é um dos últimos detentores de potenciais hidráulicos e o que mais ganhou experiência na exploração de energia hidroelétrica na segunda metade do século passado.
A eletrólise é uma das formas mais freqüentes de uso da energia elétrica, que permite o seu armazenamento na forma dos produtos por ela produzidos, especialmente aquela de origem hidráulica. O Lítio, por exemplo, é o elemento essencial para fabricação de baterias leves, cuja tecnologia já é utilizada em celulares e notebooks. O hidrogênio pode ser utilizado em células de combustível. Ambos são obtidos por meio da eletrólise e servem como fontes para acionamento de veículos elétricos.
No momento, o Brasil deve concentrar pesquisas em tecnologia de aproveitamento total da cana de açúcar e da biomassa de florestas cultivadas para produção de combustível líquido, como alternativa da queima direta do bagaço em antigas termoelétricas a vapor, verdadeira “reminiscência arqueológica” do industrialismo. Estas devem ser substituídas por termoelétricas combinadas (Candiota, Piratininga, e usinas de cogeração existentes nas usinas de açúcar e álcool) e o bagaço teria aplicação mais eficiente em “calor de processo” como a indústria cerâmica e de vidro.
A segunda necessidade brasileira é garantir a produção de álcool para a para acionamento de carros e termoelétricas, alem da venda do combustível e experiência de fabricação para outros países. Para que tenha terra suficiente é preciso reduzir o rebanho de bovinos, tanto na Amazônia, quanto no cerrado. A redução do rebanho é possível, com a experiência brasileira de mais de 300 anos, que pode ser acelerada com a descrição recente do genoma do gado. Com isso, o Brasil pode se transformar em exportador de tecnologia de garrotes precoces (semem, reprodutores e matrizes).
A engorda extensiva de bois é o maior responsável pela degradação de pastagens que já atinge a região Amazônica. Alem do pequeno valor agregado, exportação de carne por bois criados extensivamente significa perda de patrimônio. A exportação de matéria prima é um forte concorrente pela utilização de recursos escassos ou ambientalmente incorretos. Ora, tanto o cultivo de grãos quanto cana é uma atividade mais correta e lucrativa do que as anteriores. Logo, a providência mais sensata seria limitar o rebanho, produzindo carne de bois confinados e evitar o transporte de matéria prima, exportando produtos acabados de maior valor agregado. Globalmente a exportação de matéria prima não beneficia ninguém, concorre apenas para o agravamento das condições ambientais e maior utilização de recursos escassos: minério, grãos e carne. Minério e grãos exigem combustível no transporte de mercadorias pesadas para países que vão utilizá-los de modo ineficiente. Já a carne, incentiva a criação extensiva de gado, maior vilão das queimadas e concorrente do boi confinado. Isto é o “óbvio ululante”.
Como a energia elétrica é o nosso fator mais favorável, deve ser usada para impedir tais exportações. Por exemplo: na Amazônia, para produzir eletro intensivo e no Sudeste, para acionamento de carros elétricos. O álcool tem grande potencial exportador, tanto o combustível como 40 anos de experiência tecnológica. Só nos Estados Unidos a necessidade de adição é seis vezes a produção brasileira. O Brasil tem condição de se tornar o maior fornecedor de gado confinado, ou seja, exportador do boi já alimentado com o grão de origem.
Indiretamente, os responsáveis pelas más condições ambientais são os importadores de carne e minérios brutos da Amazônia, impedindo que sejam processados aqui, de maneira mais eficiente. Se bens tecnológicos podem ter produção globalizada, o mesmo não acontece com bens primários, sem comprometer o meio ambiente. Portanto, limitar a exportação de carne e minério bruto da Amazônia, não apenas é um bom negócio, como é essencial para a sua preservação

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