ARTIGO: Politica suicida

Países em desenvolvimento


Mas por que num país como o Brasil, especialmente privilegiado por condições naturais, a opção por carros elétricos não vinga? Criado inicialmente para reduzir a dependência do petróleo o etanol brasileiro acabou contribuindo de forma inesperada para a redução da emissão de gás carbônico e da contaminação por chumbo, ambas de âmbito global. Mas constitui um grande equívoco imaginar que todos os problemas estejam resolvidos. Do ponto de vista local os carros a álcool continuam poluindo tanto quanto os carros a gasolina.
Em âmbito local, a poluição -- que foi problema de países industrializados -- ocorre atualmente com maior intensidade nos países em desenvolvimento cujas cidades são as que mais crescem. Com o crescimento desordenado das grandes cidades a qualidade do ar vem se deteriorando e a preocupação com as emissões de gazes em âmbito local abre possibilidades concretas para o veículo elétrico.


Política suicida


Para um país que tradicionalmente emite pouco a substituição de parte da frota por carros elétricos pode ter pouco significado, uma vez que o remanescente — constituído por veículos a álcool — continua emitindo gazes poluentes em âmbito local. Curioso que um país dos mais bem aparelhados para utilização de carros elétricos não consiga ao menos aliviar o problema de circulação de veículos nas grandes cidades. Isso se deve a causas estruturais da economia provocadas por políticas suicidas: subsídios prolongados ao combustível aliado à penalização excessiva das tarifas de energia. Ao proceder assim o país está seguindo uma política exatamente o contrário da China. Subsidiar transporte e produção de comodities pode tornar alimentos mais baratos ao trabalhador, mas não produz empregos relevantes na agricultura e mineração que utiliza meios tecnológicos. Ao contrário, penalizar a produção industrial por meio de tarifas elevadas reduz a concorrência do país, justamente nas indústrias mais ocupadoras de mão de obra: alimentos, têxteis e manufaturas. O grande sucesso atribuído ao agro-negócio e mineração se deve aos subsídios ao combustível (álcool, diesel e gasolina) que tanto criticamos quando praticado pelos países industrializados. Estamos, sem o saber, ganhando a batalha, mas perdendo a guerra para os chineses e indianos.
Um exemplo bastante elucidativo ocorre no setor de consumo doméstico de eletricidade: somos lenientes com o uso de dispositivos anacrônicos como os chuveiros elétricos que foram induzidos pelo “mito” da eletricidade barata. Julgamos estar protegendo o trabalhador considerando o custo ridículo do equipamento (o chuveiro elétrico). Entretanto, segundo cálculo do Professor Goldemberg (Energia para o Desenvolvimento), o custo de capital do suprimento de energia equivalente, para o país como um todo, é cerca de três vezes maior. Se o suprimento fosse por aquecedores a gás, a economia para o consumidor seria de 50% e o custo de capital seria 1/5 do custo do tão propalado “aquecedor solar”, conforme demonstrado nos “PSs” abaixo:


1º PS: Você toma um banho de 10 minutos num chuveiro de 6 mil Watts consumindo 1 Kwhora e paga uma conta de 0.45 x 1 ou 0.45 R$/banho.
Se o chuveiro fosse a gás (gasolina) pagaria 0.21 x 1 ou 0.21 R$/banho
Uma economia de 50% em relação ao consumo de eletricidade.
Nota: O aquecedor a gás custa 1/5 do aquecedor solar. Foi o mito da hidroeletricidade barata que perpetuou o uso dos anacrônicos chuveiros elétricos. Qual a razão de tanto encargo sobre energia que é fundamental para produção de bens básicos?


2º PS: Projetei um grupo gerador de reserva para um hospital e fiz a seguinte recomendação: “ligar o gerador a diesel e deixar a Cemig na reserva”. Sai muito mais em conta. Se as empresas praticassem esse tipo de informalidade e fizessem o mesmo certamente ganhariam dinheiro (provavelmente já estejam fazendo).

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