domingo, 15 de agosto de 2010

O CULTO DA TECNOLOGIA

Todas as formas de energia provem do sol, a exceção da nuclear que provem do interior da matéria. A energia hidroelétrica é uma forma de energia produzida recentemente pelo sol que é renovada a cada ciclo de chuvas, mas uma vez utilizados todos os saltos potenciais, não permite acréscimos. De fato, a energia hidroelétrica é “renovada” a cada ciclo de evaporação da água, como energia atual do sol e corresponde àquela do presente. A energia dos combustíveis fósseis, que tambem é uma forma de energia potencial, é a energia captada no passado pelo trabalho da fotossíntese e depositada ao longo de eras geológicas de milhões de anos. Por ser cumulativa, como os raios X, é infinitamente maior que a energia hidroelétrica, por isso não é provável que esteja acabando, em poucos anos do industrialismo.
Só o fato de não gastar combustível não basta para considerar a energia hidroelétrica como mais econômica do que a termoelétrica. É intensiva em capital, que é o fator mais escasso dos países em desenvolvimento. Toda energia atual que não foi utilizada, passando pelos vertedores das usinas, se perdeu definitivamente e não será jamais recuperada. O que isto quer dizer é que a energia hidroelétrica bem como a energia de floresta atual, não se acumula. As florestas naturais não são depósitos de energia como os depósitos fósseis. Por esta razão é que dizemos ser muita pretensão imaginar que, em apenas 300 anos do industrialismo estes recursos estejam se esgotando, uma vez que são infinitamente maiores do que a energia hidroelétrica, praticamente reduzida a meros 700 GW, que se forem utilizados, encerra o ciclo de aproveitamentos hidroelétricos.
No passado, o desenvolvimento ocorreu pela utilização de recursos abundantes da natureza, que era o modo natural compatível com o conhecimento da época. Hoje, o desenvolvimento deve ser buscado através de formas mais engenhosas de utilização da energia. Uma das formas de economizar energia é deixando de gastar por mudança no tipo de atividade, conforme fizeram os países industrializados e alguns emergentes. Outra forma é tentar repor recursos que deram origem aos combustíveis fósseis, plantando novas árvores, ainda que sejam insuficientes. Uma terceira é produzir e gastar a energia de modo mais eficiente. Por incrível que possa parecer, esta é uma das maiores “fontes disponíveis”.


O CULTO DA TECNOLOGIA

A primeira forma, só mudar de atividade, não é o bastante. Significa transferir a outros a responsabilidade de produzir transporte e alimento para atender necessidades mais prosaicas de alimentação e aquecimento de novos consumidores. Afinal, nem todos poderão mudar para outras atividades ao mesmo tempo. Alguns permanecerão responsáveis pelo trabalho pesado, consumidor de energia. Os países industrializados poderão comprar energia, trocando por produtos tecnológicos (quinquilharias eletrônicas), ou então, produzir sua própria energia nuclear (ineficiente para aquecimento) a preços muito mais elevados (cerca de 6000 dólares por Quilowat). Este é o grande problema dos países industrializados: alem de gerar desemprego nos países de origem, seu mercado não é grande o suficiente para se autoalimentar. Tem que ser impingido aos países em desenvolvimento como nova forma de colonialismo. Ao comprarem estes produtos de prematura obsolescência, os países em desenvolvimento pagam uma espécie de tributo pelo “culto da nova tecnologia”. Um computador ou celular com seis meses de uso, não vale absolutamente nada.
É surpreendente que as novas tecnologias da informação e da eletrônica, que produziram tantos resultados, tenham encontrado apenas soluções parciais para problemas, que pareciam menores, como aqueles relacionados com a vida do ser humano concreto, no sentido mais estreito da palavra: sua existência animal e primitiva, como alimentação, aquecimento, circulação e transporte. Atividades biológicas do ser humano concretas exigem gasto de energia que não pode ser suprida apenas por alta tecnologia. O transporte e energia, não podem ser virtuais. A novíssima tecnologia da biogenética já está produzindo aumentos substanciais de produtividade nas plantações de cana e florestas cultivadas. A nova tecnologia da biogenética, utilizada no Brasil em florestas cultivadas (clones de eucalipto) aumentou a produtividade da indústria do aço a partir do carão vegetal em mais de três vezes. No futuro próximo, quando esta tecnologia tiver maior aceitação por parte do público, talvez venha a mudar todo o panorama da produção de alimentos protêicos.
Não obstante as alegadas razões ambientais, a prospecção de petróleo continuará em expansão, dada a sua grande importância estratégica.
Nos próximos capítulos vamos verificar quais atividades podem ceder lugar ao etanol, verificando o consumo de combustível futuro: terra para criação de bovinos e transporte de matéria prima, seguindo o conselho de José Goldemberg: “Os países em desenvolvimento não deveriam trilhar os mesmos caminhos de desenvolvimento do Norte, mas buscar novas direções e assumir os riscos da inovação em áreas especialmente promissoras”.
Por incrível que possa parecer, a mais valiosa fonte de energia permanece subutilizada: “o uso mais eficiente no uso-final da energia disponível e a escolha das alternativas promissoras de produção e seus vetores energéticos”. José Goldemberg (Energia para o desenvolvimento, 1988) e (An End-use Oriented global Energy Strategy,” Annual Review of Energy, 1985) citado no trabalho “Energy for a sustainable World” do World Resource Institute.

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