domingo, 15 de agosto de 2010

COMBUSTÍVEL PARA AQUECIMENTO

O combustível é especialmente valioso porque é a forma mais eficaz de produzir aquecimento, adequado ao perfil do consumo dos países industrializados que está concentrado na demanda por combustíveis para aquecimento e transporte. Estes utilizam fundamentalmente o petróleo, mas poderiam utilizar etanol produzido nos países tropicais a preços concorrentes. Gerar calor por meio de usinas termoelétricas, inclusive nucleares, é um desperdício como mostra a figura 1. Mas, nada impede que venha a ser utilizada, como recurso extremo, apenas terão custos maiores.

Crescimento per cápita do consumo de energia e PNB em %
Energia -6 -12 -6
PNB 21 17 46
Tabela 1 - Crescimento do consumo de energia e PNB per cápita nos países industrializados no período 1973 a 1985.











COMBUSTÍVEL PARA ALIMENTOS

O custo do transporte, até agora visto como uma variável independente, não incide igualmente em todos os setores. Incide pouco sobre produtos tecnológicos, mesmo com preços elevados do petróleo. Já o mesmo não acontece com os produtos básicos. No setor primário, o custo da produção e transporte de insumos básicos é fortemente dependente do combustível. A globalização da economia não é nenhuma novidade pois já ocorreu no século passado. Nem se processa de maneira idêntica e simultânea nos diversos setores da economia, privilegia os produtos mais valiosos. No estágio atual, de fato, o processo de globalização vem ocorrendo, sem obstáculos, em setores de serviços e de alta tecnologia. Componentes tecnológicos valiosos podem ser reunidos e redistribuídos de e para diversos países, quase sem custos. São transportados por aviões, alguns deles virtualmente, como softwares. No setor primário, entretanto, a globalização encontra resistência pelo elevado custo da produção e transporte de mercadorias baratas. Necessidades biológicas como alimentação, aquecimento, circulação, transporte exige gasto de energia que não pode ainda ser suprida por alta tecnologia. Em outras palavras, Energia e transporte não podem ser virtuais.
Até recentemente parecia que a globalização do setor primário fosse seguir os mesmos passos, isto é, insumos básicos de baixo valor como grãos poderiam ser transportados ao redor do mundo para alimentar animais de países industrializados e alguns emergentes. Mas, sucessivas altas no preço do petróleo encareceram a produção e o transporte dos grãos, acompanhando o preço do petróleo. Até os subsídios, praticados pelos países industrializados, se tornaram inócuos, como medida capaz de conter a valorização das comodities agrícolas. É claro que a globalização da economia no setor primário vai seguir um caminho distinto, porque a livre circulação de mercadorias baratas ao redor do mundo intensifica o uso de combustível. Até o petróleo requer combustível (o próprio petróleo) para ser produzido e distribuído. Cotado a 120 dólares o barril na bolsa de Nova York, é uma comodity como outra qualquer, cujo preço, 74 centavos de dólar o litro, é pouco superior ao da soja, cotada a 54 de dólar o quilo na bolsa de Chicago. As novas descobertas em mar profundo dificilmente conseguirão produzir petróleo a um custo inferior ao preço atual.
A terra é outro fator que concorre para mudança de rumo da globalização no setor primário. A utilização da terra para produzir um combustível alternativo em larga escala, apenas troca um recurso limitado por outro. A terra é um recurso tão limitado quanto o petróleo, dizem. A substituição de toda a gasolina contida no petróleo, apenas para consumo de automóveis em todo mundo, vai exigir uma quantidade de terras que pode ser satisfeita as custas da redução da área destinada à criação e engorda extensiva de bovinos que é menos eficiente. Mas, esse não é o problema principal. Algum setor será atingido, e ainda assim, o problema continuaria irresolvido. Faltaria combustível para aquecimento e acionamento de termoelétricas, que continuaria dependente do petróleo. O maior concorrente da produção de grãos e combustível é a extensa área destinada à criação de bovinos. A produção de carne bovina deverá passar por uma reformulação, diante da exigüidade de terra disponível para criação. Conquanto a tecnologia da seleção de linhagens já permita abreviar o tempo de permanência de bovinos no pasto, o mundo todo não dispõe de terra suficiente para atender ao consumo mínimo de carne bovina no presente e no futuro. Só alguns países, com disponibilidade de terra para cria de gado poderão dar-se a esse luxo. A nova tecnologia da biogenética, utilizada no Brasil em florestas cultivadas (clones de eucalipto) aumentou a produtividade da indústria do aço a partir do carão vegetal em mais de três vezes. A produção de alimentos geneticamente modificados pode tornar possível o aproveitamento direto dos grãos na alimentação humana, dispensando a cria de bovinos como fonte de alimentos protêicos. No futuro próximo, quando esta tecnologia tiver maior aceitação por parte do público, talvez venha a mudar todo o panorama da produção de alimentos protêicos.
O atual quadro de incertezas reinante nos organismos internacionais acerca do futuro da globalização está criando um clima de pânico generalizado que levam alguns a pensar: Ou os cultos representantes dos blocos de países (G-8, G-5, G-20) estão mal informados, o que seria inadmissível, ou estão informados demais e, por questões diplomáticas, não querem dizer o que pensam, o que seria um fato lamentável diante da atual crise Americana.


CRISE DE ALIMENTOS OU CRISE DE ENERGIA

Nos organismos internacionais a atual crise dos alimentos é tratada com tamanha superficialidade que leva a suspeita de ignorância ou certa dose de má-fé. Causa estranheza que cálculos simples, utilizando apenas aritmética, não sejam compreendidos pelos cultos chefes de estado que, afeitos a decisões políticas de magna importância, bastaria a eles uma simples consulta a qualquer cientista para ter a ajuda imediata: “as duas coisas estão relacionadas. Entretanto, é muito mais fácil produzir energia de aquecimento e alimentos calóricos (cereais, legumes e frutas) do que alimentos protéicos (carne)”.
Quando a atual crise das comodities é abordada genericamente nos organismos internacionais, os representantes dos diversos países utilizam a expressão “crise dos alimentos” -- um argumento diplomático mais visível e comovente, contraposto ao etanol -- para se referirem ao grão, milho e soja, que importam para alimentar animais. Ora, o grão não é, tipicamente, um alimento do ser humano. Ele os consome, em quantidade significativamente menor que os animais, é claro, na forma de cereais e em conjunto com outros alimentos energéticos. Guardadas as proporções, os animais é que são os grandes consumidores de grãos, especialmente os bovinos. Soja e milho concentram 82.4% da produção agrícola brasileira de 2008. Apenas 7.6% correspondem aos outros alimentos energéticos (Arroz, trigo, feijão, batata, mandioca e outros). Na verdade o mundo não carece de alimentos energéticos, mas de alimentos protêicos como a carne, especialmente a carne bovina, que não consegue produzir em quantidade satisfatória por insuficiência de terra combustível.
Se o temor é o de perder os fornecedores de grãos, isso já está acontecendo: ao melhorarem de vida, os asiáticos desejam pelo menos um décimo do consumo dos países industrializados (100 kg anual por habitante nos Estados Unidos), e não apenas alimentos energéticos como arroz, trigo e animais exóticos.
Paradoxalmente, os representantes dos países industrializados, presumivelmente mais cultos, parecem não levar muito a sério as questões ambientais (Estados Unidos, China) enquanto os representantes dos países em desenvolvimento são os que mais se preocupam. Em plena era da globalização, com as mudanças ocorrendo, problemas cruciais como “Aquecimento Global” e “O Fim dos Recursos Mundiais” - que são problemas de todos, mas não são de ninguem – encontram um tratamento paroquial, cada país buscando a solução de curto prazo para si próprio, que atenda seus interesses imediatos. Países industrializados parecem mais preocupados com o fim dos recursos mundiais, de curto prazo, do que com as mudanças climáticas, cujos efeitos são anunciadas para o fim do século. Seu maior temor é de que países em desenvolvimento venham a utilizar energia da forma predatória, como eles o fizeram no passado e, com isso, tenham que compartilhar recursos escassos como petróleo para aquecimento de residências e, grãos para sustentar a produção de alimentos protêicos em seus países (carne).


COMPETIÇÃO x COOPERAÇÃO

Os choques no preço do petróleo abrem um leque de oportunidades de cooperação espontânea, ímpar na história dos países em desenvolvimento. No artigo “Aspectos atuais da produção energética”, de 1975, já ponderávamos:
As novas condições impostas à economia do país, depois da elevação dos preços do petróleo, vem despertando um interesse pelos assuntos energéticos que, antes, tinha estado latente e restrito aos setores especializados.
Se é certo que, a curto prazo, alguns setores como o dos transportes, continue sofrendo severas restrições, parece claro que, a longo prazo, o país saiu lucrando com a “crise dos combustíveis”: Em primeiro lugar, porque o setor energético foi amplamente beneficiado com a súbita valorização da energia que pode ser produzida por outras fontes, como as de origem hidráulica, das quais o país possui amplos potenciais disponíveis; em segundo, porque foi estimulado a investir na prospecção de recursos petrolíferos próprios, o que vai certamente garantir um futuro mais sólido, como livra o país de uma dependência incômoda.
Conquanto não sejam esperadas alterações substanciais nos rumos da política energética, cujo acerto ficou definitivamente comprovado com a crise dos combustíveis, há um interesse geral em conhecer pormenores de uma “crise” que afeta a todos indistintamente e algumas questões, que dela são derivadas, merecem ser debatidas:
• Como explicar, por exemplo, a afirmação de que a economia do país tenha sido “apenas parcialmente atingida pela crise dos combustíveis?”.
• Não parece que a energia, sobre as mais distintas formas ou origens, se tornou subitamente valiosa com a crise dos combustíveis?
• Não é de se esperar que o país, ao utilizar basicamente fontes hidráulicas na geração de energia elétrica, tenha ganhado um poder de competição na produção de bens industriais, especialmente naqueles cuja produção é intensiva em energia elétrica?
Agora em 2005, com o novo choque do petróleo, as mesmas condições se repetem.
No seu trabalho premiado “Energia para o desenvolvimento” de 1980, o professor José Goldenberg apontava:
“Os países em desenvolvimento não deveriam trilhar os mesmos caminhos de desenvolvimento do Norte, mas buscar novas direções e assumir os riscos da inovação em áreas especialmente promissoras”. “O sucesso do Brasil na produção de aço baseado no carvão vegetal mostra que é possível encontrar tecnologias avançadas que dêem amplo apoio às metas do desenvolvimento. A tecnologia é bem adequada aos recursos de muitos países ricos em biomassa e pobres em combustíveis fosseis”.
A disponibilidade de terras, subtilizada com a engorda de bois em regime extensivo, oferece enorme possibilidade de cooperação espontânea entre países em desenvolvimento, no desenvolvimento conjunto de alternativas mais promissoras: produção de combustíveis derivados da cana e de florestas cultivadas; produção de carne localmente; produção de aço baseado em carvão vegetal; produção sazonal de comodities metálicas de alto valor agregado (alumínio, estanho, níquel, zinco). Estas são alternativas muito mais promissoras do que a simples utilização de recursos naturais na criação extensiva de bovinos.
Os argumentos de “utilização mais eficiente da terra” e “redução do transporte de mercadorias baratas” pode parecer a alguns a expressão de um desejo de que a última etapa da globalização no setor primário reverta em benefício para países em desenvolvimento. Mas, a globalização é um fenômeno irreversível. Já está acontecendo no setor primário, por iniciativa dos países em desenvolvimento, ao tomarem decisões por sua própria conta. O Programa do álcool brasileiro é um bom exemplo. A globalização não é uma estratégia imposta pelos países industrializados para continuar colonizando países em desenvolvimento. Pelo contrário, ocorreu espontaneamente a revelia dos governos dos países industrializados e a despeito das ideologias, crenças e religiões. A cooperação de empresas transnacionais com os países em desenvolvimento propiciou enormes benefícios para ambas as partes com o que os países em desenvolvimento puderam crescer mais. Nada vai impedir que países em desenvolvimento cooperem entre si, espontaneamente, na busca de suas alternativas mais promissoras, a exemplo do ocorrido no leste Asiático. Países em desenvolvimento já têm suas próprias empresas transnacionais, estatais ou não (Petrobrás, Vale, Gerdau, etc., para citar as mais próximas), aceitando o processo de globalização.
A enorme diversidade dos países em desenvolvimento, cada um com suas especificidades, constitui o ingrediente básico para a cooperação espontânea, caminho natural dos novos rumos da globalização da economia. Assim como não é conveniente para os países Asiáticos a formação de blocos, tambem não interessa aos demais países em desenvolvimento. Os blocos interessam mais aos países semelhantes que desejam competir em lugar de cooperar.
Para haver competição é preciso haver similaridade entre adversários (países industrializados) e objetivos coincidentes (venda de produtos tecnológicos), fato comprovado pela experiência das guerras destrutivas do século passado em busca de mercado para os países conflitantes. A experiência mostra tambem a existência de uns poucos países similares e uma grande quantidade de países diferentes, o que quer dizer: geralmente, existem mais formas de ser diferente do que semelhante. A competição realçou as diferenças. Mas, como podem os países se tornar mais diferentes ainda? A resposta é simples: tornando-se especialistas. A especialização dos países certamente acompanhará a especialização ocorrida entre indivíduos no interior de uma sociedade, como bem demonstra a experiência de cooperação dos países industrializados com o Leste Asiático. A extrema especialização tornará cada país tão singular e único que em vez da competição haverá cooperação. Em alguns países em desenvolvimento como o Brasil, a cooperação ocorreu na década de 50, no setor automotivo. Nos dois casos citados os benefícios são evidentes para ambos os participantes.
Tornar-se igual exige esforço competitivo para desenvolver idéias inovadoras. Entretanto, a cooperação atual e passada é um desmentido à convicção de que só a confrontação egoísta e voraz motiva os países para a produtividade. Tornando-se especialista, tudo aquilo de que um país necessita encontrará no mercado, vendendo o seu produto, especial e único, o qual será o complemento de outros. O mercado é neutro: não impõe condições. A ida ao mercado é uma decisão interna de cada um.
O sistema de produção não é mais constituído por uma cúpula restrita e uma imensa massa indiferenciada de países consumidores dos produtos de países industrializados do tempo subseqüente à revolução industrial. As especializações se distribuem completamente por ampla gama de diversidade que não permite mais o antagonismo mortal das guerras de conquista. Núcleos familiares latifundiários e auto-suficientes explodiram diante da urbanização e industrialização crescentes, levando os países às mais variadas e estranhas composições e engajamentos, destruindo os interesses de pequenos grupos dominantes. Afastado o perigo das guerras destrutivas e da explosão populacional os países não necessitam mais ficarem confinados dentro dos estreitos limites do nacionalismo e auto-suficiência. A cooperação exige a complementação das aptidões de cada participante. Quanto mais diferentes, mais chance terão de se complementarem. O próprio contato entre países de crenças e ideologias treina-os para autonomia e cooperação e os predispõem para a aquisição de uma maior cultura, superior e universalizadora, sem que precisem abdicar de suas próprias. A variedade de países e suas qualidades específicas tornarão a competição sem efeito, senão impossível. A cooperação é um estágio superior que permitirá a humanidade alcançar um nível maior de operacionalidade que foi privilégio de uns poucos grupos de elite. Mas, não é imprescindível que precisem abrir mão de sua cultura própria.
O relacionamento entre países guarda algumas semelhanças com os sistemas físicos. Nos sistemas fechados a ”entropia” é sempre crescente, mostrando uma nítida tendência para a uniformidade quando o estado de equilíbrio é atingido (temperatura constante de um gás, por exemplo). Será que podemos afirmar que a “sinergia” tambem cresce no relacionamento de países em cooperação? A princípio, grandes diferenças entre países proporcionam os maiores ganhos sinérgicos com a cooperação. À medida que as carências internas são eliminadas os ganhos se tornam menores até se tornarem nulos. Os dois lados têm a ganhar com as trocas enquanto a cooperação prevalecer. É provável que os participantes se tornem mais semelhantes, não podemos dizer com certeza. Mas, como os dois lados ganham com a cooperação, podemos dizer, certamente, que estarão no final em um nível superior ao dos outros países que não cooperam. Acresce dizer tambem que a presença de humanos no circuito altera as condições de isolamento, tornando as relações entre países um sistema aberto. O próprio contato dos participantes em estágio próximo treina-os para maior autonomia e cooperação, suprindo a dependência, fixações de auto-suficiência e o clima de isolamento característico das relações tradicionais. Países que buscam a auto-suficiência não querem colaborar, pois não têm o que oferecer como moeda de troca. Procuram, sim, competir, através de regras protecionistas, para impor a outros países as condições prevalecentes até a segunda guerra mundial.
Após décadas de baixa persistente no preço das comodities os países industrializados agora querem retornar ao antigo posto de produtores desses bens, como se isso fosse possível. Todos os países ameaçam impor restrições à livre circulação de alimentos como uma recaída aos velhos processos de competição de outrora, hoje sepultados pela crescente colaboração entre países das mais diferentes sistemas políticos, crenças e ideologias. A cooperação se estabelece sem pressões quando as mercadorias circulam livremente. Somente as trocas voluntárias serão capazes de restabelecer o equilíbrio em curto período, dado o estímulo que os altos preços de agora oferecem aos reais produtores: os países em desenvolvimento. Os países industrializados não podem retroceder aos processos primários de produção de comodities gastadores de energia. A produção de etanol a partir do milho evidencia isso claramente: tem balanço energético quase nulo. Corre-se o risco de consumir mais do que produz em termos de energia, como acontece no processo experimental de fusão nuclear.
Exemplo de novas tecnologias:
• Aproveitamento de combustíveis fósseis não agressivos ao meio ambiente.
• Transformação da celulose em combustível líquido ou gasoso.
• Um processo mais eficiente de transformação do calor em trabalho, do qual não escapa nem os futuros processos de fusão nuclear.

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